Fraudes cresceram 35% em 2023; especialistas ensinam a preveni-las

Boletins de ocorrência, bases de dados de Segurança Pública, relatórios de consultorias e dados de órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, indicam que o número de golpes digitais cresceu 35% ao longo de 2023 e as fraudes bancárias lideram a lista, especialmente como consequência de dois tipos de situação: furto ou roubo do celular, em que os bandidos conseguem acessar a conta da vítima, ou por meio de links maliciosos, que conseguem superar os sistemas de segurança dos bancos.

Resta, ao mercado, se adiantar aos golpistas e criar uma série de ações para evitar fraudes e, consequentemente, prejuízos. E uma das soluções para fazê-lo é a adoção de camadas de segurança ainda na fase de abertura de novas contas.

“Hoje falamos em quatro principais camadas: a biometria facial, a verificação de dados cadastrais, a análise de documentos e análises positivas. A combinação dessas camadas sempre vai depender do contexto de cada cliente e a gente pode dizer que esse contexto vai depender principalmente de dois elementos, que são a demografia do público-alvo e a questão da oferta que você está realizando”, explica Pedro Moreno, head de Produto da Serasa Experian.

Pedro Moreno – Head de Produto da Serasa Experian

Pandemia

Criar camadas de prevenção a fraudes se tornou ainda mais importante durante a pandemia de Covid-19, entre os anos de 2020 e 2022, tendo em vista que a necessidade de digitalização de serviços e atendimentos em resposta à necessidade de isolamento social fez com que o volume de golpes aumentasse 457% apenas entre 2020 e 2021.

Moreno aponta que os golpistas apostaram, majoritariamente, na criação de sites falsos, entre eles site de banco de empregos, em que o cidadão informava todos os dados dele na esperança de conseguir uma recolocação no mercado de trabalho. Os bandidos, no entanto, usavam estas informações para abrir contas e pleitear empréstimos ou manter a conta para fazer transações sem que o titular soubesse.

Assim, especialmente em casos de ofertas de crédito consignado, o expert da Serasa Experian recomenda a biometria facial. “Os brasileiros confiam e acreditam na biometria facial como uma tecnologia segura para autenticação”, continua Moreno.

Custos

Já Rodrigo Sanches, diretor de Growth Global da ClearSale, questiona se a biometria facial é, de fato, uma estratégia interessante ainda no início do relacionamento de instituições financeiras com novos clientes, tendo em vista os altos índices de desistência verificados ainda na fase cadastral de novas contas.

“Preciso trazer a biometria para o ponto inicial que é o ponto de morte, ou será que eu posso fazer essa coleta se a biometria em um pós? Digo isso porque, recentemente, sentei com um fundador de um banco digital e eles estavam com uma enorme porcentagem de abandono de onboard na fase da biometria. Ele disse que não entendia por que a biometria dele, da melhor tecnologia, a mais ágil e a mais amigável, fazia com que as pessoas abandonassem o cadastro. Ele começou a ligar e fazer uma pesquisa para essas pessoas e as pessoas diziam que quando a imagem apareceu, elas não estava bonitas o suficiente para poder terminar  o processo. Elas queriam se arrumar para registrar a biometria”, acrescentou o executivo.

Prevenir fraudes, na opinião do Sanches, também deve estar alinhada com uma estratégia assertiva, a fim de evitar o desperdício de recursos. “De dois anos para cá, fala-se muito do conceito de utilizar camadas. Cinco, seis, sete camadas de segurança. Mas quanto vai ficar o custo de aquisição de cliente? R$ 10? R$ 12? R$ 13? Será que é justificável, por exemplo, lançar um novo produto nesse canal ou aplicativo? Este é um ponto que tenho discutido muito com clientes, porque não é só falar em diferentes camadas, mas falar também de eficiência operacional”, acrescenta.

Comportamento

Mas a prevenção de fraudes bancárias ganhou um grande aliado nos últimos anos: a inteligência artificial, especialmente quando a instituição conta com ferramentas de análise preditiva.

Afinal, os golpes repetem um modus operandi que levanta suspeitas facilmente identificáveis. Uma delas, afirma Rafael Garcia, global partner solutions da Fico, é a alteração de dados cadastrais do cliente, que precede compras fora do perfil de consumo do cliente. “Não adianta eu ter uma um olhar míope e querer apenas entender o porquê daquele comportamento transacional financeiro, de uma transação atípica que aquele cliente realizou com uma velocidade, por exemplo, de cinco transações em um período de uma hora, totalizando um valor acima de R$ 7 mil.”

No caso acima, ainda mais se realizado durante a madrugada, pode até ser que não seja uma tentativa de golpe. Por isso, ressalta a importância de que os bancos contem com ferramentas tecnológicas, capazes de monitorar e avaliar o comportamento do cliente para diferenciar compras normais de fraudes.

Ecossistema

Rodrigo Sanchez comemora, então, a recém lançada Resolução Conjunta nº 6 do Banco Central, que estabelece critérios para o compartilhamento de dados e informações sobre indícios de fraudes a serem observados pelas instituições financeiras, de pagamento ou autorizadas a funcionar pelo BC. “É uma base de alerta centralizadas para o mercado, mais uma maneira de o ecossistema começar a colaborar. Se eu enxerguei uma fraude e minha empresa notifica, os outros players se beneficiam disso.”

Rodrigo Sanchez – Diretor Growth Global – ClearSale

O diretor da ClearSale ressalta que, em todo mundo, os fraudadores se comunicam rapidamente, fazendo com que alguns tipos de golpe sejam até exportados para outros países. Assim, a colaboração em todo o mercado financeiro será bem-vinda, exceto em casos de sinalizações equivocadas. “Se eu, enquanto banco, erro essa análise e marco uma fraude que não foi uma fraude, eu acabo de criar barreiras para aquele cliente”, emenda.

A colaboração do mercado, na visão de Rafael Garcia é bastante benéfica também a partir dos esforços “para salvar nomes negativados”, pois a partir do momento em que um ecossistema mostra que o consumidor tem boas relações em outros segmentos, como o e-commerce, é possível usar esta evidência no mercado financeiro para democratizar o acesso ao crédito. “Por exemplo, uma pessoa que está em um lugar menos favorecido e queria pegar um empréstimo para investir em um pequeno negócio. Não vou negar o crédito para ela, porque eu posso estar impactando na vida dela, na vida da sociedade e do entorno. Ela tem uma índole adequada e poderia ter crédito, mas por algum motivo, talvez de um desacordo comercial, algum que um evento muito pontual, teve seu nome negativado e hoje não consegue crédito, então a gente está muito no viés de olhar o comportamento no todo. Repensar este viés gera esse movimento benefício para essa democratização do serviço, é uma espécie de inclusão financeira a partir do comportamento do consumidor”, conclui.

Quer ficar por dentro de todas as informações do Open Hub News? Acesse nosso Linkedin ou assine nossa Newsletter.

Autor