Uso de dados vai tornar a indústria C&C brasileira mais parecida com a americana e europeia

Com dados e Open Finance, histórico negativo do cliente será menos relevante, dizem especialistas

Há anos, a indústria de Crédito e Cobrança enfrenta uma série de desafios que ainda parece estar longe de soluções. Uma delas é o que fazer com o volume expressivo de inadimplentes em todo o País, que chegou a ultrapassar a casa dos 70 milhões e atualmente está em 66,56 consumidores com, pelo menos, uma pendência. Outra questão que impacta o mercado é expandir a carteira de crédito ao incluir a população de baixa renda e microempresas no mercado sem grandes riscos.

Para ambos os casos, o cadastro positivo até chegou a despontar como uma solução para tais dilemas. Até dezembro de 2022, de acordo com um levantamento da Serasa Experian, 13,5 milhões de consumidores passaram ou voltaram a ter acesso a crédito após inclusão em bancos de dados.

Porém, este movimento de expandir públicos deve ganhar ainda mais força com o aumento do uso de dados pelos credores, em especial com o open finance, em que o mercado de crédito terá acesso a dados além de um histórico de inadimplência do cliente. É o que acreditam Marcos Loução, presidente do Porto Bank, e Ricardo Kalichsztein, presidente da Quod.

O uso de dados, aliás, possibilitará que a indústria C&C consiga criar produtos tão personalizados a ponto de tornar obsoletas as discussões se um determinado empréstimo tem de contar com a garantia de um veículo, na visão de Loução.

“Quando falamos em pedir o cadastro positivo, as depreciações financeiras já não são tão relevantes, pois hoje temos informação de telecom, de utilities, de saneamento. E tudo isso significa inclusão, porque quando falamos de informações de hábitos de pagamentos de outros mercados que não o financeiro, estamos diante da possibilidade de beneficiar pessoas com uma oportunidade de entrar no mercado”, observa Kalichsztein.

Apesar dos avanços, o cadastro positivo é, na avaliação do presidente do Porto Bank, uma ferramenta que melhorou a assertividade das instituições financeiras, pois viabiliza a melhoria de produtos e ofertas aos clientes finais. No entanto, o banco de dados não trouxe redução das taxas de juros dos clientes.

Previsões

Graças às combinações de algoritmos, o mercado já consegue prever a negativação e identificar os maus pagadores. Assim, na visão do presidente da Quod, informações negativas sobre o cliente se tornam cada vez menos relevantes para a tomada de decisão, aproximando a indústria brasileira das práticas já consolidadas nos Estados Unidos e Europa. “Temos atualmente uma capacidade muito grande de avaliação, integração de analytics e produtos. É super interessante como, de forma compartilhada, unimos a tecnologia com o que já existe no mercado há 50 anos para melhores momentos de precisão.”

Com o open finance, Marcos Loução acredita até que será possível aprovar transações do cartão de crédito sem que o cliente tenha um cartão de crédito. “O open vai mudar um pouquinho a bola do jogo ao nos mostrar para olhar os clientes.”

Já para Ricardo Kalichsztein, a plataforma permitirá que o mercado entenda os “clientes invisíveis”, que já se tornaram visíveis com a forte adesão do público às contas digitais e até consiga criar novas dinâmicas de pagamento.

“Evoluímos muito um pouco nesse sentido de entender, de verdade, como funciona o pagamento de uma conta de luz de uma família com três pessoas, em que cada uma ganha um salário mínimo. A inclusão vai muito além de conceder um cartão ou um aplicativo aos clientes. Talvez este seja o primeiro passo que já demos e que foi importante no contexto de cinco anos atrás. Agora, teremos um outro mundo, em que temos muito o que avançar ainda”, exemplifica o presidente da Quod.

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