Correr em uma pista de fórmula I a 300 km por hora é risco calculado, correr em uma avenida da zona leste de São Paulo a 156 km por hora é irresponsabilidade – é crime e passear na Cracolândia (centro de São Paulo) com a família às 9 horas da noite é insanidade. E é nesta gangorra de riscos e consequências que a vida segue!
O centro desta questão é o risco, este componente (voluntário ou involuntário) que está sempre presente em nossas vidas, seja ela pessoal ou profissional. É através da avaliação do risco que tomamos as nossas decisões, assumimos posições, rejeitamos outras e às vezes a ignoramos e pagamos um preço muito alto.
Gestão de risco não é um bicho de 7 cabeças como se pode imaginar; fazemos isso no nosso cotidiano e nem percebemos. Normalmente fazemos esta avaliação de forma pragmática, baseados em experiências anteriores, relatos de terceiros ou simplesmente por instinto de preservação.
Quando saímos de casa ou viajamos, tomamos o cuidado de nos certificar que tudo esteja trancado, gás desligado, luzes apagadas, suspendemos o recebimento de jornais; quando entramos no carro nos asseguramos que as portas estejam travadas, evitamos deixar o celular visível a terceiros, não visitamos o coreto lindo da Praça da República (centro de São Paulo) à noite com a família… Não clicamos em qualquer link que recebemos pela internet e assim por diante. O que estamos fazendo nada mais é do que gerenciar o nosso risco, relativo aos eventos que poderiam nos causar danos, os mais diversos.
Entretanto, na vida das empresas e das instituições governamentais a coisa já não é bem assim.
Quando eu trabalhava no Citibank, costumava brincar, afirmando que o nosso cérebro era uma máquina fantástica; processava inúmeras atividades ao mesmo tempo, porém quando chegávamos ao banco, este órgão parava de funcionar…rsrs – era apenas uma brincadeira – o Citi era uma escola fantástica!
Um exemplo claro de falta de gestão de risco em termos de desastre ambiental é o que, infelizmente ocorre no Rio Grande do Sul, um evento extremo, sem precedentes na história do Brasil, que poderia ter sido evitado ou minimizado caso medidas preventivas tivessem sido tomadas no momento adequado. O custo da reconstrução será infinitamente maior do que os possíveis gastos com a prevenção. Ainda que os bens materiais possam ser recuperados, as vidas não! Poderíamos citar também os casos de Brumadinho e Mariana, em um passado recente e atualmente o Quênia e o Afeganistão que enfrentam situação semelhante.
Indo para o mundo corporativo não são poucos os casos de má gestão de risco. Grandes bancos, financeiras e varejistas passaram ou ainda passam por situações semelhantes com prejuízos estratosféricos; isso quando conseguem sobreviver! Vide Lojas Americanas, Oi, Grupo Petrópolis, 123 Milhas, Livraria Saraiva, Livraria Cultura e tantas outras.
Alguns simples exercícios do tipo “what-if” poderiam ter um efeito positivo para mitigar os riscos envolvidos. É fato sabido que o risco não se elimina, ele se transforma conforme a evolução natural dos processos, portanto esta avaliação deve ser feita de maneira contínua e atualizada permanentemente.
Finalizando, o cerne da questão é a consequência dramática que a ausência da avaliação de risco em todos os setores da sociedade e a consequente falta de prevenção causam na vida das pessoas, como desemprego, fome, problemas de saúde, falta de moradia e, mais importante, vidas perdidas!
Que tal contribuirmos JÁ para melhorar o nosso mundo, iniciando por uma avaliação de risco daquilo que nos envolve?
Até a próxima!