Qual o legado do Desenrola?

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Afinal o que o programa deixou para credores e devedores?

O programa Desenrola Brasil que foi lançado pelo governo federal com o objetivo de apoiar clientes inadimplentes na renegociação de dívidas, teve resultados significativos segundo apuração realizada até maio de 2024. O programa trouxe beneficiou a mais de 15 milhões de pessoas, com uma redução de 8,7% na inadimplência entre os participantes da faixa prioritária, faixa esta que considera pessoas com renda de até dois salários-mínimos ou inscritas no Cadastro Único.

Ao todo, o programa gerou R$ 53,07 bilhões em dívidas renegociadas, o que representa cerca de 0,5% do PIB do Brasil. Além disso, o programa também trouxe benefícios a mais de 600 credores, que conseguiram recuperar valores que estavam registrados em perda.

Ele foi perfeito? Não como nada é! Mas trouxe facilidades na consolidação das dívidas na plataforma gov.br, que também teve questões importantes que buscaram ser resolvidas em tempo do programa, como a obrigatoriedade de o cliente devedor ser pelo menos prata na plataforma.

Mas qual o legado do Desenrola? O que o programa deixou como filosofia na indústria de cobrança?

Acompanhando o programa desde o início e acompanhando muitos credores tenho a certeza de que o Desenrola trouxe uma nova cultura tanto para devedores como para credores.

Do lado dos credores, com exceção daqueles que já estavam acostumados com campanhas constantes, sem dúvida trouxe a muitos credores a visão de que campanhas com descontos é algo positivo e que traz resultados. Por exemplo, tivemos um aumento de 12,7% nas renegociações através do “Serasa Limpa Nome” em comparação ao ano anterior. Isso sem dúvida, ajudou a conter o crescimento da inadimplência no país e deu um alívio financeiro significativo para a população mais vulnerável.

Além do alívio destacado, é certo que o devedor teve uma sensação de empoderamento, ou seja, ele percebeu que em caso da inadimplência ele não precisa ficar aguardando para que o credor entre em contato com ele e sim que ele pode buscar resolver seu problema.

Esse é um movimento que de certa forma já era algo muito discutido entre grandes credores. Há um tempo, em um painel que mediei com 2 grandes bancos discutimos o quanto a cobrança deve hoje proporcionar canais disponíveis para que o cliente possa acessar no momento que quiser e principalmente no canal que lhe convir e buscar as opções de negociações disponíveis.

Este é o novo momento da cobrança, não apenas gerar ações informativas dizendo aquilo que o devedor já sabe, ou seja, que existe um montante não pago e em atraso, mas sim, deixar claro que existem opções de pagamento e dependendo do atraso, descontos! Além de opções de parcelamento da dívida.

No meu canal no Youtube, fiz dois vídeos um somente eu, falando um pouco da minha percepção e outro com um credor que faz a gestão de mais de 50 varejistas e teve situações diversas entre estes credores.

Como disse antes, a situação de dar descontos sobre dívidas é algo nem sempre que está na cabeça de um credor tradicional, me lembro quando atuei em Telecom e no primeiro ano já busquei fazer uma campanha e quando falei em uma campanha com descontos fui imediatamente questionado sobre porque dar descontos. Depois de muita explicação seguimos com a campanha e ao final da campanha com seus resultados já tive o seguinte questionamento:

“Quando vai ser a próxima?” rsrsrs

É fato que o processo de descontos deve ter sempre seu cuidado, me lembro também na época de Telecom onde fazíamos muitas entrevistas sobre a campanha, todo ano vinha sempre o memo questionamento: “Mas dar desconto não cria o vício do desconto e não faz com que o cliente fique esperando pelo desconto?”

E sempre respondi que é um fator que devemos ter cuidado SIM, e que a maioria dos descontos são sempre oferecidos com uma faixa de atraso em que o cliente já esta com seu nome negativado, com seu produto cancelado e com seu relacionamento já não mais como no início, então aguardar pelo desconto tem inúmeras consequências negativas.

E voltando ao Desenrola, uma outra pergunta vem sendo feita em muitas reportagens que acompanhei: “Com o fim do desenrola, onde o devedor pode renegociar sua dívida?”

Todo o credor tem sem dúvida suas políticas bem definidas com planos de parcelamento disponíveis. Além disso existem inúmeros portais de negociação facilmente localizados em uma pesquisa nos buscadores.

Está pergunta, porém, indica a certeza de que hoje o inadimplente precisa ter acesso a sua dívida e as opções de pagamento.

E este é sem dúvida o legado do DESENROLA BRASIL!!

Fica uma questão, que sem dúvida que me pergunto. Qual vai ser efetivamente o resultado das renegociações parceladas, tendo em vista estas operações serem garantidas pelo FGO?

Segundo o site https://agenciagov.ebc.com.br/:

  • Pagamentos à vista: Representaram uma parte significativa das renegociações, com um ticket médio de R$ 250. Nesses casos, os consumidores conseguiram descontos médios de 90% sobre o valor original da dívida. A maioria dos pagamentos à vista foi feita via Pix.
  • Pagamentos parcelados: Tiveram um ticket médio consideravelmente maior, em torno de R$ 791. Os descontos para pagamentos parcelados foram ligeiramente menores, com uma média de 85%. A renegociação parcelada geralmente envolveu uma média de 13 prestações, com juros médios de 1,82% ao mês. A maioria das parcelas foi paga via boleto.

O apoio do governo federal via FGO (Fundo Garantidor de Operações), foi sem dúvida um diferencial do Desenrola, que destinou R$ 1,7 bilhão do FGO para o programa, como garantia em caso de inadimplência dos devedores que participassem do programa. Esse valor foi parte de um montante maior, de R$ 8 bilhões, reservado para políticas de garantia como o Desenrola.

Sendo assim, o DESENROLA não foi apenas uma grande campanha de recuperação, ele garantiu a resolução dos problemas dos inadimplentes que negociaram para os credores.

Campanhas de recuperação hoje fazem parte do dia a dia de qualquer gestor de cobrança. E por isso sem dúvida ter um novo programa é muito bem-visto pelo mercado.

Tive a informação que credores que ingressaram no Desenrola, tiveram uma recuperação no período, quase 2 vezes superior a dos credores que não optaram pelo programa.

Sem dúvida o legado do DESENROLA é superpositivo e independente de preferências políticas o Governo atual merece crédito pelo Programa.

Fica nossa pergunta:

Quando vem o próximo DESENROLA?

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