Hiperpersonalização e segurança definem a nova competitividade financeira

Por Paulo Kaneko – FICO Fraud Domain Expert

Mais do que discursos, o setor financeiro tem evoluído para compreender o comportamento do cliente em profundidade, usando dados e tecnologia para entregar experiências mais relevantes, personalizadas e ágeis. Uma pesquisa recente da FICO revelou que 62% dos consumidores esperam experiências personalizadas e ofertas que façam sentido no seu contexto de vida. Não é sobre vender mais — é sobre entender melhor.

Essa expectativa crescente inaugura uma nova fase da competitividade no setor. A hiperpersonalização, antes restrita à recomendação de produtos, agora invade áreas sensíveis como prevenção a fraudes e tomada de decisões em tempo real. E isso exige mais do que tecnologia, exige sensibilidade, responsabilidade e, acima de tudo, confiança.

Hoje, entender o cliente significa acompanhar sua jornada completa — desde o momento em que se tornou correntista até seu último login no aplicativo. Com isso, a personalização deixa de ser apenas uma vitrine de produtos recomendados e passa a ser uma ferramenta de proteção. Conhecer o padrão de comportamento de um cliente permite identificar quando algo foge à regra, antecipando riscos e oferecendo segurança com menos fricção.

Com o avanço das tecnologias de análise, trabalhar com dados em larga escala deixou de ser apenas uma questão de volume. Hoje, a capacidade de transformar grandes quantidades de dados em insights relevantes é o que impulsiona decisões mais assertivas e estratégicas. A eficácia está em saber o que importa e como esses dados são tratados.

As ferramentas que vão moldar o futuro da hiperpersonalização já estão entre nós — e a forma como as instituições as adotam fará toda a diferença. Modelos generativos estão sendo usados para criar comunicações personalizadas e automatizadas com linguagem natural em escala. Já o Edge AI, ao operar diretamente nos dispositivos dos usuários — como celulares ou terminais de pagamento —, permite decisões em tempo real com latência mínima, algo crucial para a segurança e experiência fluida. E, por fim, os analíticos de grafos (graph analytics) ampliam a capacidade de entender relações entre entidades — clientes, dispositivos, contas — enriquecendo a personalização com contexto e ajudando a identificar redes de fraude.

Essas tecnologias têm um ponto em comum: tornam a personalização mais precisa e sensível ao momento. Mas, ao mesmo tempo, ampliam o desafio de manter a integridade e a auditabilidade dos dados que alimentam esses modelos.

Para que essa engrenagem funcione em tempo real, é preciso uma arquitetura robusta. O sistema precisa ser capaz de cruzar dados, interpretar contexto e responder em milissegundos — tudo isso mantendo a rastreabilidade e a conformidade com regulações. Cada decisão automatizada precisa ser não só rápida, mas justificável. Afinal, uma recusa de crédito ou um bloqueio por suspeita de fraude afeta diretamente a vida de uma pessoa. E o cliente quer — e tem o direito — de saber o motivo.

Modelos baseados em inteligência artificial estão no centro dessa transformação. Mas aí surge o dilema da “caixa-preta”: quanto mais complexos os modelos, mais difícil explicar como eles chegaram àquela conclusão. Resolver isso passa por desenvolver modelos mais transparentes, acoplar camadas de explicabilidade e garantir que todas as decisões críticas possam ser auditadas e revisadas por humanos.

O equilíbrio entre controle e confiança

Existe também um movimento crescente para devolver ao cliente parte do controle sobre sua experiência. Permitir que ele defina limites de transações, horários de uso, canais preferenciais de contato. Isso não só aumenta a proteção, mas reforça a confiança, criando uma relação mais equilibrada e participativa.

Ao mesmo tempo, é preciso estar atento aos novos riscos que nascem da sofisticação desses sistemas. Fraudadores já exploram falhas em decisões automatizadas, tentam manipular modelos com dados fabricados e simulam comportamentos legítimos para enganar sistemas inteligentes. Isso exige vigilância contínua e evolução constante. A personalização só é segura quando construída desde o início com esse olhar.

Regulamentações como LGPD e GDPR não são obstáculos, são bússolas. Elas ajudam a definir os limites do uso de dados e protegem tanto o cliente quanto a instituição. Estar em conformidade não deve ser o objetivo final, mas o ponto de partida. As instituições que conseguirem aliar inovação, respeito à privacidade e clareza nas decisões terão um diferencial valioso: a confiança.

E, no fim, tudo se resume a isso. Estamos falando de escolhas que impactam vidas em segundos, de decisões que podem construir ou destruir uma relação. O que definirá o sucesso será, cada vez mais, a capacidade de entender o cliente com profundidade, agir com inteligência e se comunicar com responsabilidade.

Quem conseguir fazer isso de forma clara, ágil e ética não só terá vantagem competitiva. Terá, acima de tudo, a preferência do cliente.

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