Qual será a importância da agenda Ambiental, Social e Governança para uma empresa? Qual o nível de prioridade que os empreendedores e executivos estão dando para o ESG? Será que já perceberam que esse não é um movimento passageiro (e nem pode ser) uma vez que se conecta ao perfil comportamental da atual geração? São com essas perguntas, ou provocações, que inicio essa reflexão.
Percebo que muitas empresas ainda enfrentam dificuldades em incorporar o ESG em sua cultura corporativa. Embora tenha se tornado uma prioridade para as companhias em 2023, apenas 33% delas conseguem focar nos três pilares simultaneamente, segundo uma pesquisa realizada pela HRTec Mereo.
O levantamento aponta que, dentre os setores que abraçam integralmente a sigla ESG, a construção civil (21%) e a manufatura (18%) lideram. Em seguida, vemos energia (15%), atacado (12%), agronegócios (9%) e varejo (9%). Entretanto, a grande maioria (57%) opta por seguir apenas dois pilares e 10% adota um pilar.
Vários fatores contribuem para essa realidade: a crise econômica, a persistente desigualdade social e as questões de segurança e infraestrutura absorvem grande parte da atenção do governo e das empresas. Frequentemente, a prioridade tem sido manter a estabilidade e promover o crescimento econômico, deixando os princípios ESG muitas vezes em segundo plano.
Não obstante, a falta de regulamentações e de uma fiscalização eficaz também influencia na posição secundária do ESG no Brasil. Embora existam leis e políticas ambientais, sociais e de governança, a execução muitas vezes é ineficiente, permitindo que as empresas não vejam as práticas sustentáveis como obrigatórias.
Mas atenção, o consumidor está de olho, passou a escolher não só pelo preço, mas também pelas práticas da empresa. Ela precisa ser admirada não só pelo produto, mas por todo o processo, sendo assim, a mudança vai acontecer no amor ou na dor.
É preciso dar um passo a frente
A 15ª Edição da Pesquisa Nacional sobre Sustentabilidade nas Organizações e a Aplicação das Dimensões ESG apontou que 54,1% das empresas participantes não possuem políticas formais de compras de materiais verdes ou ambientalmente certificados. Ademais, 51,4% não desenvolvem nenhuma ação voltada à logística reversa. Esses números refletem um cenário preocupante.
Além disso, 64,9% das organizações não têm um Sistema de Gestão Ambiental implantado, auditado e certificado; 73% não realizam o Inventário de Emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa); 75,7% não possuem indicadores e metas de redução de GEE e a mesma porcentagem de organizações não tem um plano de compensação das emissões.
E não para por aí. Vejo que no eixo social, que inclui métricas sociais com temas como inclusão, equidade, direitos humanos e diversidade, também precisamos avançar.
Isso significa que as empresas necessitam investir na concretização das ações sociais, que deve envolver não apenas as pessoas que atuam internamente na empresa, mas também os terceirizados, fornecedores e todos que, de alguma forma, fazem parte do ecossistema no qual a empresa está inserida.
O pilar da governança também não pode ser ignorado. Uma estrutura de governança sólida, responsável e transparente faz toda a diferença. Por exemplo, uma área de compliance atuante e uma ouvidoria que garanta análise imparcial alicerçado nas políticas e diretrizes éticas internas da empresa que precisam ser claras e conhecidas por todos, valoriza os profissionais, a empresa e garantem a perpetuidade do negócio.
As empresas reconhecendo a importância de incorporar essa sigla ESG em seu dia a dia, na cultura organizacional em direção a práticas que estejam alinhadas a essas políticas sustentáveis no fim das contas se beneficiam, visto que os consumidores de seus produtos e serviços depositam mais credibilidade e confiança nas empresas que adotam o ESG.
Ainda é necessário enfrentar desafios
Entretanto, há desafios que precisam ser superados. Um dos maiores enfrentados pelo Brasil é a prevalência da mentalidade de curto prazo em muitos setores. Empresas e até políticas governamentais frequentemente buscam resultados imediatos, sacrificando o investimento em práticas sustentáveis a longo prazo. Isso cria obstáculos para a integração efetiva do ESG nas estratégias empresariais e políticas públicas.
O caminho para disseminar a adoção do ESG e torná-lo uma realidade generalizada é conscientizar e educar sobre sua importância para impulsionar mudanças significativas. Ignorar os princípios dessa prática pode acarretar graves consequências no futuro.
Não decidir é uma decisão, no entanto, convido a todos a adotarem o ESG ou correm o risco de ficar com a música Epitáfio do Titãs na cabeça: “devia ter amado mais…”. Neste caso, melhor não se arrepender.
*Eric Garmes é CEO da Paschoalotto